quinta-feira, 24 de setembro de 2009

AS ORIGENS INTERTESTAMENTÁRIAS DA LITURGIA DA PALAVRA.

REFLEXÃO EPISCOPAL
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A Editora Hagnos teve a feliz iniciativa de reeditar (a primeira edição foi de 1951) este ano a pequena-grande obra do pastor Enéas Tognini O Período Interbíblico – 400 Anos de Silêncio, onde o autor estuda o tempo do ‘silêncio profético’, também denominado de período intertestamentário, entre Malaquias e João Batista, focalizando os períodos persa, grego, dos macabeus e romano, que antecederam a chegada do Messias.
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Chama a atenção para o surgimento da instituição das sinagogas, durante o exílio babilônico, quando, na ausência do Templo e dos sacrifícios, a adoração comunitária se volta para a Palavra. No regresso do exílio, as sinagogas – com sua arquitetura, decoração, móveis e utensílios próprios – subsistem nas cidades judaicas e na diáspora (com o Templo reconstruído, e, outra vez destruído), se consolidando, historicamente, até os nossos dias.
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Uma Liturgia da Palavra foi sendo elaborada: com a invocação (‘Shema’), a Oração de Arrependimento (‘Semoneh Esreh’), as Leituras, a Pregação, uma Oração Conclusiva e uma Bênção Final. As Leituras eram três: da Torah (Pentateuco), dos Salmos e dos Profetas.
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As Igrejas do primeiro século partem desse modelo, deslocam o culto para o domingo, elaboram a Ceia do Senhor, e, posteriormente, com o fechamento do Cânon do Novo Testamento, acrescentam leituras desse: Epístolas e Evangelho. Com pequenas variações vamos encontrar essa Liturgia tanto no Oriente (Nestorianos, Pré-Calcedônios, Bizantinos e Uniatas), quando no Ocidente (Roma).
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A Primeira Reforma – Luterana e Anglicana – apenas retirando acréscimos posteriores considerados incompatíveis com os ensinos bíblicos e a tradição apostólica (reforma, não ruptura) – continuam com a Liturgia da Palavra, com ou sem a Liturgia Eucarística, com o Ano Eclesiástico dividido em quadras e com suas leituras que permitem aos fiéis a exposição à totalidade dos textos escriturísticos. As leituras de cada dia se harmonizam em torno de um tema central, e se sabe que a Palavra de Deus não volta vazia.
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É por essa prática que se afirma: “Os ministros luteranos e anglicanos são os únicos que são obrigados a pregar a Bíblia toda, e não apenas os seus versículos favoritos”.Nada mais sólido do que os sermões expositivos que cubram a totalidade de um livro da Bíblia, seu texto, seu contexto, seus atores, seus ensinos.Textos como pretexto, ou como ‘azeitona em empada’ para enfeitar o pensamento (cultura/ideologia/teologia) dos ministros-astros não parecem superar a superficialidade, bem como os versículos-pílulas de deus-ajuda, com muito contexto e escasso texto.
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O modelo litúrgico de uma hora de louvor subjetivo-verticalista-generalista-emotivista + uma hora de retórica + arrecadações + avisos + coreografias (com ou sem “descarregos”) está a anos luz das sinagogas e das Igrejas de muitos séculos.Que os pastores diminuam e Cristo cresça! Que a retórica humana diminua e a Palavra cresça!
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O Espírito que moveu os judeus no exílio a criar as sinagogas e elaborar a Liturgia da Palavra continua a ser invocado nas Paróquias, Missões e Pontos Missionários Anglicanos que não se ‘sentem cansadas’ de ouvir a Bíblia lida e exposta.
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Recife (PE), 21 de setembro de 2009.
Festa de São Mateus,
Apóstolo e Evangelista.
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+Dom Robinson Cavalcanti,
Bispo Diocesano
Secretaria Episcopal
Diocese do Recife - Comunhão Anglicana
Escritório Maceió - AL(das 8h às 13h)
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"E todos os do teu povo serão justos, para sempre herdarão a terra; serão renovos por mim plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado. O menor virá a ser mil, e o mínimo uma nação forte; eu, o Senhor, ao seu tempo o farei prontamente" (Isaías 60:21-22).

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